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04 fevereiro 2012

A ave que se apaixonou pelo círculo de cores.

Haicai de Ildo Silva a partir do conto "A ave que se apaixonou pelo círculo de cores."


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Vivia em seu descampado... uma ave, meio diferente, estranha aos olhos humanos desapercebidos da beleza natural. Contudo, passava por ali um solitário viajante em seu mundo íntimo, conflitando com suas emoções entre cores e desbotados sentimentos, passados e futuros, buscando no presente aquilo que poderia mesclar o que antes fora vivido com o que por fim, desejava viver. Talvez um sonho proibido, talvez um que estivesse a prever. Seus pincéis e tintas na mochila já gasta por pintar sonhos alheios, às costas, quando viu aquela ave ali em movimentos. Num primeiro olhar lhe pareciam completamente diferentes de tudo que já havia visto, mas se deteve por um instante naqueles movimentos e conseguiu ver que em essência era um bailado da vida em movimento, ela entoava em seu corpo a vida que lhe corria dentro.

Não se fez de rogado, o viajante tirou de sua mochila os seus apetrechos e recolhendo alguns gravetos, montou uma escultura que mais parecia um catavento sem pontas, apenas círculo e coloriu com todas as cores que lhe agradavam e que acreditava combinar com aquela ave que havia lhe encantado.

Após pintá-lo colocou sua escultura colorida ali em meio aos galhos do lugar e partiu em meio ao cerrado.

Aquele círculo colorido chamou a atenção da ave que em seus movimentos, nada elegantes e seu farfalhar de asas exuberantes, estes sim, chegou perto do círculo e ficou a olhar, tentando descobrir a que se prestava aquela estranha forma ali em tão bonitas cores. E o círculo de cores ali, apesar de colorido, parado, estático, não se mexia afinal não havia vento e naqueles tempos então, a aridez era extrema.

A ave para chamar a atenção do seu amigo novo, começou a fazer um bailado à sua frente com aquelas pernas compridas, e nada do círculo se mexer. Então a ave se pôs a balançar sua cabeleira rala de um lado a outro a frente, ao agora o que se tornara para ela um companheiro todos os dias. E assim fazia aquela ave, todos os dias, ia até o seu amado círculo colorido, fazia lá o seu bailado estranho para ver se ele se mexia, mas nada, o círculo não saia do lugar, quieto e quase sem vida se não fosse suas cores lindamente pintadas pelas mãos do artista.

Em certa manhã, a ave já entristecida com o seu companheiro sem vida, pôs-se em sua direção, contudo dessa vez, sua raiva era tão intensa que seus movimentos ganharam uma melodiosa passada muito bem delineada e ritmada no calor do inconformismo da paixão. Decidida a acabar com o relacionamento a ave deu-lhe uma bela e dolorosa bicada, e foi assim que o círculo, fez um giro e meio e a ave então, se afastou e não acreditando no que via, voltou e dessa vez com um pouco mais de cuidado, deu-lhe outra bicada, e o círculo dessa vez, fez um giro mais suave e melodioso, exibindo todas as suas cores. A ave não cabia em si de tanto contentamento, seu amado estava vivo e só dependia de algumas bicadas para assim se mostrar. Sorriu ... Será que ave sorri? ... Bom assim foi, e ela então, passou a ir todos os dias em direção ao seu amado círculo e lhe dar algumas bicadas, umas mais leves, outras mais intensas e assim o círculo sorria, um sorriso doloroso, diga-se de passagem, mas sorria em seus movimentos, infinitamente belos em suas cores lindamente pintadas pela mão do artista solitário.

E ave agora já não estava mais sozinha em seu descampado, havia agora seu círculo de cores por quem tinha se apaixonado e aquele amor era tanto que o círculo começou a se esforçar em seus giros e um dia girou com tanto amor por sua amada ave que suas cores se fundiram e emitiram um reflexo lindo num branco perfeito traduzindo a paz que tanto o círculo e aquela ave em seu cerrado buscavam. Assim foi neste baile de movimentos e cores que um amor entre seres tão distintos aconteceu... a ave estranha e seu apaixonado e apaixonante círculo de cores ... Ah! lindamente pintado pelas mãos do artista! ... que isso seja bem lembrado! ... Emoção que se coloca em tudo que se faz ... Cria vida!

(Kátia de Souza)

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